6 de abril de 2011 | 19h19
Autor: Celso Ming
Fonte: http://blogs.estadao.com.br/celso-ming/
As previsões de que o excesso de chuvas do primeiro trimestre derrubaria as colheitas deste ano não se confirmaram. A alta umidade em algumas regiões causou perdas e prejudicou a qualidade do produto, mas não a ponto de provocar derrubadas significativas de safras.
Nesta quarta-feira, tanto a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os dois organismos oficiais que fazem levantamentos desse tipo, anunciaram recorde de produção de grãos neste ano-safra. Nas estimativas anteriores, tanto a Conab como o IBGE haviam acenado com quebra de produção.
Os números divergem um pouco, o que é normal, porque exigem levantamentos em todo o Brasil e projeções levam em conta variáveis nem sempre coincidentes. Mas ambos apontam para as mesmas direção e tendência.
A Conab prevê uma produção de 157,4 milhões de toneladas de grãos, um aumento de 5,5% sobre a produção anterior. E o IBGE, 155,6 milhões de toneladas, crescimento de 4,0%. A safra de grãos de 2009/2010 atingiu 149,2 milhões de toneladas. (Veja o gráfico)
Uma informação adicional positiva que também tem de ser levada em conta é a de que o crescimento da área plantada no Brasil foi menor do que deverá ser o da produção. A Conab indica que será de 49,2 milhões de hectares (mais 3,9%) e o IBGE, de 48,1 milhões de hectares (mais 3,3%).
Isso parece indicar que, além de contar com bom índice pluviométrico, o produtor brasileiro utilizou mais tecnologia na produção em todos os níveis: escolha da semente, preparo e correção da terra e manejo do cultivo, com fertilizantes e defensivos.
Esse aumento da produção de grãos acontece num momento em que os preços têm um comportamento especialmente favorável para o agricultor. As commodities alimentícias apresentaram em 12 meses (até o final de março) uma alta de 43,6%.
É verdade que alguma perda o agricultor está tendo com a valorização do real diante do dólar, moeda em que são cotadas as commodities. Mas essas perdas estão sendo compensadas com um avanço maior dos preços em dólares.
Isso significa que a renda do agricultor já está aumentando e pode crescer mais do que o esperado. Efeito coligado deve aparecer na força do interior: mais consumo, mais encomenda à indústria e mais utilização de serviços de todo tipo.
Do ponto de vista macroeconômico, isso pode indicar que, embora toda a economia cresça mais devagar (avanço de 4,0% do PIB comparado com os 7,5% ocorridos em 2010), o aumento do consumo pode continuar bem mais alto. É uma indicação que o crescimento das importações, de 23,3% no primeiro trimestre (sobre o primeiro trimestre de 2010) e, mais do que isso, a forte escassez de mão de obra parecem confirmar.
E esse é um problema adicional para o Banco Central, que pretende conter o consumo. Até agora, o crescimento do crédito não se desacelerou aos níveis pretendidos e as vendas de bens de consumo duráveis, especialmente veículos, continua exuberante.