O agronegócio brasileiro ganhou destaque mundo afora nos últimos anos. Do tradicional açúcar a frutas como maçã e melão, incorporadas há menos tempo, passando por grãos e carnes, os produtos do campo brasileiro invadem em volume crescente mercados da Europa, da Ásia, da América Latina e do Oriente Médio.
Com milhares de pequenos e médios produtores e alguns gigantes surgindo, como Cosan e JBS Friboi, o agronegócio encorpou e hoje responde por quase um quarto da geração de riqueza nacional, algo em torno de 750 bilhões de reais no ano passado. Mesmo assim, a produção agrícola sofre com a dificuldade para obtenção de financiamento e com as altas taxas de juro cobradas por bancos quando liberam créditos. A baixa profissionalização que ainda vigora no setor e o pouco conhecimento das instituições financeiras sobre a atividade sempre foram empecilhos para que opções de crédito mais modernas aparecessem.
Há agora a expectativa de que esse cenário possa mudar. Um instrumento financeiro mais familiar para quem trabalha com o mercado de capitais do que com as lavouras começou a dar os primeiros passos como alternativa para que agricultores possam financiar as colheitas sem ter de recorrer a bancos ou ficar reféns de fornecedores de insumos, que viraram nos últimos anos uma das principais fontes de crédito. O CRA, sigla para Certificado de Recebíveis Agrícolas, foi criado por lei em 2004. Mas, sem regulação adequada e sem apetite de investidores, não decolou no mercado.
No ano passado, quando suas regras foram equiparadas às dos Certificados de Recebíveis Imobiliários, as primeiras operações começaram a surgir. Trata-se de um meio de financiamento que usa o produto das colheitas como garantia. Uma empresa de securitização faz a montagem e a coordenação da operação, que inclui o acompanhamento de advogados, o monitoramento da safra e a análise de bancos e de agências de avaliação de risco.
Os bancos também participam. Eles buscam investidores que possam ser atraídos por taxas de retorno que giram em torno de 18% ao ano — e pela isenção de imposto de renda criada para esse tipo de operação. Ainda que o lucro prometido seja bom, a procura por enquanto ainda é pequena. A imensidão de opções de investimento mais conhecidas com taxas atraentes é um obstáculo. “Mas com o tempo isso tende a mudar. Ocorreu o mesmo com as CPRs, o primeiro título criado para o setor agrícola, que demoraram dez anos até se tornar um sucesso”, diz Roberto Machado, gerente de títulos e registros da Bolsa Brasileira de Mercadorias da BM&F Bovespa.
Fonte: http://exame.abril.com.br/economia/brasil/noticias/incentivado-pela-isencao-de-ir-o-capital-vai-ao-campo